quarta-feira, 30 de julho de 2014

Muffins de chocolate para arrumar o ano lectivo

Para um professor os anos não terminam em Dezembro. Nessa altura ainda vamos a um terço do ano, e isto porque para nós os anos são lectivos e não civis. Para mim, pelo menos. No momento em que vos escrevo, acabo de arrumar o ano. Este ano foi um ano estranho, de imenso trabalho e alguns desafios que me deixaram satisfeita. Todos os anos são diferentes, porque os alunos são sempre diferentes, e fazendo uma análise, temos a tendência para achar que o último é sempre o mais difícil. Se pesar os resultados finais e aquilo que consegui fazer com os alunos o balanço é bem positivo. Contudo, nos últimos tempos, anos, diria, surgiu um novo desporto que faz com muitas vezes pondere abandonar estar profissão: tiro ao prof. Não há quem não tenha relambórios, queixas, críticas, dedos apontados, ânimos exaltados ou uma palavrinha contra o professor. Tudo vale. Nada se tolera. Nada se desculpa. Tudo serve para autos-de-fé em praça pública. Esta intolerância estende-se também aos alunos, também eles são apelidados de ignorantes, mal-educados, desrespeitadores. Se juntarmos os professores que não prestam para nada com os alunos que para nada prestam, segundo os arautos do apocalipse, estamos literalmente entregues aos bichos. Ora acontece que, como se sabe, todas as generalizações são abusivas e nem nós somos todos maus nem eles são todos péssimos. A turma que originou a receita que hoje vos trago incluía-se no grupo dos que assim não são. Nos primeiros dias fiquei agradavelmente surpreendida. Consegui fazer o que já não conseguia há anos: ter os alunos calados e interessados, a participar, e a fazer a aula acontecer. No fim do ano convidaram os professores que os acompanharam ao longo destes dois anos para um piquenique no jardim. Cada um levaria algo para comer. Fiz-lhes estes muffins. Temperei-os com o meu carinho e retribuíram-me da melhor maneira, apreciando-os. Se conhecessem melhor o ensino talvez o odiassem menos e o respeitassem mais.

Muffins de chocolate

Ingredientes
250g de farinha de trigo
150g de açúcar branco
2 colheres de chá fermento
4 colheres de sopa de cacau em pó
½  colher de chá de sal refinado
100 gr de chocolate negro cortado em pedaços
1 ovo grande
250ml de buttermilk (pode ser substituído por leite)
90ml de óleo vegetal

Preparação
Prá-aquecer o forno  a 190°C. Colocar formas de muffins de papel dentro das formas de silicone para o mesmo fim.
Juntar a farinha, fermento, cacau em pó e sal num recipiente. Adicionar o açúcar e o chocolate em pedaços.
Bater o ovo e o óleo com uma vara de arames. Juntar aos ingredientes sólidos e mexer apenas. Deitar por fim o buttermilk e envolver.  Não bater nem mexer demasiado a massa.

Deitar colheradas da mistura nas formas de muffins até dois terços e levar ao forno 20 a 25 minutos. 


Fiquei convencida com estes muffins: muito fáceis de fazer e deliciosos. Ao contrário do que se faz com o ensino, ninguém reclamou.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Garoupa à Bulhão Pato para começar bem o mês

Escrevi uma vez um post que anda por aí perdido nessa blogosfera intitulado "a nostalgia do bitoque". Tê-lo-ei algures encafuado também e ainda é capaz de ressuscitar neste blogue mas por enquanto fica a ideia principal. Era e é uma crítica feroz àquelas pessoas que quando estão de férias reclamam com a comida do hotel. Passaram alguns anos e continuo com a mesma ideia. Para quem, como eu, gosta de experimentar comida e pratos novos e que, perante os mesmos, não torce o nariz mas fica curiosa, esta rejeição da comida diferente sempre me encanitou. Acontece, contudo, que mesmo gostando de comer de tudo um pouco, houve uma altura da minha vida, vá-se lá saber porquê, em que quando estava fora tinha saudades de peixe. Quando a minha mãe me perguntava se queria alguma coisa quando chegasse, a resposta era sempre a mesma: peixe. Agora tenho menos saudades do peixe, mas a verdade é que há muitos dias da minha vida em que sinto que poderia facilmente comer só peixe, ou quase só, e prescindir da carne. Gosto de peixes vários e quase sempre confeccionados da forma mais simples: cozido, grelhado, assado no forno e frito, fumado também vai. Nada melhor do que uns carapaus pequenos fritos com um arroz de tomate malandrinho ou com um risotto de coentros. E a epifania numas simplicíssimas sardinhas assadas numa fatia de pão saloio com uma salada pungente a acompanhar? E uns arenques fumados numa tarde de sol dourado no Báltico? Ou o cozido de peixe com malagueta e banana em S. Tomé? O que teria perdido se torcesse o nariz à diferença. O peixe é leve, cheira a mar e sabe a maresia e maresia é casa. Seriam disso as minhas saudades?

Garoupa à Bulhão Pato

Ingredientes
Filetes de garoupa frescos (comprei as garoupas inteiras e pedi que filetassem)
Conquilhas
Limão
Flor de sal (acabou-se-me o sal mas o resultado compensou)
Alho
Azeite
Coentros a gosto
Vinho branco

Preparação
Com três horas de antecedência, temperar os filetes de garoupa com flor de sal, limão e alho. Reservar. Pôr as conquilhas em água com sal com a mesma antecedência e ir mudando a água para libertar a areia. 
Antes de brasear a garoupa, fazer as conquilhas: deitar um fio de azeite numa frigideira com alho picado e alguns coentros cortados com uma tesoura de ervas aromáticas, adicionar as conquilhas, tapar e deixar que abram. Juntar mais coentros e o vinho branco. Deixar que o aroma a álcool evapore, rectificar o tempero e deixar apurar um pouco. 
Para brasear o peixe: retirar do frigorífico, tirar o alho e secar o excesso de humidade com papel de cozinha. Aquecer uma frigideira de fundo antiaderente com um fio de azeite. Colocar a garoupa com a pele virada para baixo. Virar passado alguns minutos. Deitar as conquilhas à Bulhão Pato sobre a garoupa com uma colher e servir. 
Como acompanhamento fiz batatas salteadas com cebolinho e vinagre. Ninguém reclamou, nem mesmo os carnívoros indefectíveis.


Notas: 
  • Como em quase tudo, a qualidade dos ingredientes é fundamental. Para este prato usei garoupa fresca que pedi para filetar à minha frente.
  • Porque não gosto de muitos molhos e para não afogar a garoupa, pus pouco molho das conquilhas. Posteriormente cada um adicionou a gosto.
  • Mais um prato que não é particularmente fotogénico acrescido do facto de se fazerem poucas produções fotográficas antes das refeições cá por casa, contudo, o sabor compensou a falta de fotogenia.
  • O empratamento foi e é simples: não gosto de pratos demasiado cheios ou demasiado vazios e também não gosto do peixe encavilatado em 'camas'.


Depois de ter falhado a festa de aniversário do Dia Um... Na Cozinha, eis-me de volta. Qual será o próximo desafio?