domingo, 25 de maio de 2014

Cheesecake Floresta Negra para uma ocasião especial

Cá em casa deixámos de fazer bolos de aniversário ou de os comprar na pastelaria. Eu explico. Depois do boom dos anos 80 de se ir comprar um bolo à pastelaria, lembro-me que até lá eram feitos em casa de forma singela e sem grandes alaridos, e desta tendência se ter estendido até ao final dos anos 90 cá em casa, o milénio ditou por estas bandas uma outra fase. É que depois da euforia da novidade, os bolos de aniversário passaram a banalizar-se, a não constituir grande novidade e, pior, arrastavam-se nos dias subsequentes aos aniversários. Tinham servido a função e depois disso ninguém nunca teve grande vontade de regressar a eles. Contra o desperdício lá se iam comiscando mas se fosse um outro bolo seria certamente mais apreciado. Não me lembro exactamente quando foi a primeira vez mas sei que decidi um dia que o meu bolo de aniversário seria um dos meus preferidos e que a minha mãe faz como ninguém: bolo de banana. É um bolo denso e intenso e, depois desse aniversário, os bolos de aniversário passariam a ser o que o aniversariante quisesse e o que cada aniversariante quer pode diferir muito, assim sendo, cá em casa já houve os seguintes 'bolos de aniversário': molotof mais do que uma vez, pavlova de frutos vermelhos, Floresta Negra, bolo de chocolate e frutos vermelhos, bolo de banana, bolo de bolacha.
A minha mãe abre a época de aniversários cá em casa e desta vez para agradar à aniversariante houve um inédito para todos, inédito porque eu nunca o tinha feito e inédito porque nunca tinha servido de bolo de aniversário. Apresento-vos cheesecake Floresta Negra. Ah e mil beijos de Parabéns à minha mais-que-tudo mãe. Merece tudo. Estas palavras são poucas.

Cheesecake Floresta Negra

Ingredientes
Para a base
125 g chocolate de culinária 
3 colheres de sopa de leite
150 g de manteiga à temperatura ambiente
150 g de açúcar
3 ovos
200 g farinha
1 colher de sopa de cacau em pó
1 colher de chá de fermento

Para o creme de queijo
2 embalagens de queijo creme (usei Philadelphia)
2 embalagens de natas ácidas (usei do Aldi) 
3/4 de chávena de açúcar
5 folhas de gelatina

1 frasco de ginjas descaroçadas (usei do Aldi)
Ginjinha a gosto
açúcar gelificante (pus a olho, talvez umas três colheres de sopa)


Pré-aquecer o forno a 180º. Forrar uma forma de fundo amovível com papel vegetal.
Derreter o chocolate com o leite em banho-maria. Deixar arrefecer um pouco.  Bater a manteiga com o açúcar até ficar uma creme fofo e esbranquiçado. Adicionar os ovos um a um e, por fim, envolver o chocolate derretido. 
Juntar a farinha com o fermento e cacau e envolver de cima para baixo com uma espátula sem bater. Levar ao forno cerca de 25 minutos. Retirar do forno e deixar arrefecer. 
Depois de frio, preparar o creme de queijo. Bater o queijo com o açúcar, adicionar as folhas de gelatina derretidas e envolver as natas. 
Retirar o papel vegetal do bolo e colocá-lo na mesma forma. Regar a base com ginjinha e colocar por cima ginjas a gosto. Deitar por cima o queijo creme e levar ao frigorífico até solidificar. Para a cobertura, levar ao lume ginjinha a gosto com a calda das ginjas e o açúcar. Ferver uns minutos. Deixar arrefecer e deitar por cima do cheesecake e deixar solidificar no frigorífico. 
Retirar do frigorífico e decorar a gosto. Usei cerejas frescas e raspas de chocolate negro. 


E assim foi mais um 'bolo de aniversário'. Ninguém se queixou por ter de comer bolo de aniversário e hoje ainda estava bom.


Nota: a base de bolo de chocolate é desta receita  da Rachel Allen. O bolo é delicioso e óptimo mesmo sozinho mas nesse caso é melhor dobrar a receita.

domingo, 18 de maio de 2014

Galette de alperces e frutos vermelhos com pistáchios no World Baking Day

Cozinhar é sempre cozinhar para alguém e muito raramente apenas para mim. Se estiver sozinha faço algo simples: uma salada rápida, um omelete, ovos mexidos ou uma sopa.  Só até capaz de comer fruta e iogurtes mas raramente me dou a grandes trabalhos. Contrariamente a esta minha existência meio solitária e sem hordas de amigos, cozinhar é sempre um acto de partilha. Nada como uma contradição para apimentar a vida. Quando neste World Baking Day o repto foi lançado - "Who will you bake for?" – foi-me fácil decidir e aderir. Os meus eleitos são sempre os de cá de casa, a quem dedico quase todos os meus cozinhados numa eterna declaração de amor. Esta foi a de hoje. 

Galette de alperces e frutos vermelhos com pistáchios 

Para a massa
200 g de farinha
50 g de manteiga
50 g de margarina
1 ovo pequeno
3 colheres de sopa de açúcar
Água gelada

Recheio
Alperces (a gosto)
Frutos vermelhos (a gosto)
Pistáchios (a gosto)
3 colheres de sopa de doce de doce de pêssego



Preparação
Numa tigela juntar a farinha e uma pitada de sal. Adicionar a manteiga e a margarina bem fria cortada em pedaços pequenos. Com um amassador manual amassar a farinha com a margarina e a manteiga. Deitar o açúcar. Juntar um pouco de água gelada para unir e por fim o ovo. Com uma faca mexer para unir. Deitar a massa numa superfície enfarinhada. Mexer apenas o suficiente para formar uma bola e levar ao frigorífico durante uma hora.  
Lavar e preparar os frutos. Cortar os alperces em quartos. Descascar e picar os pistáchios.
Depois de a massa ter descansado, retirá-la do frigorífico e estendê-la sobre uma folha de papel aderente até ficar uma placa redonda. A massa é muito frágil e o manuseamento deve ser feito com cuidado, mas sem hesitações. Colocar a massa em cima do papel aderente numa tarteira de fundo amovível. Deixar uma margem de três centímetros. Barrar os fundo da massa com três colheres bem generosas de doce de pêssego e dispor a restante fruta por cima. Virar as bordas para dentro e levar mais quinze minutos ao frigorífico. Pré-aquecer o forno a 200º.
Findos os 15 minutos, retirar do frigorífico. Retirar a galette da tarteira e colocar com o papel vegetal no tabuleiro do forno. Estará pronta quando a massa estiver corada e a fruta cozinhada. Retirar do forno e untar com o doce levemente aquecido.


Notas: 
  • a massa não deve ser pouco mexida para não ficar dura.
  • usei metade de margarina e metade de manteiga para conservar o sabor da manteiga e a textura da massa.
  • a escolha dos alperces é um amor de sempre meu.
  • para quem gosta de sobremesas bem doces aconselho outro tipo de fruta ou em alternativa compensar com uma bola de gelado.


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Beef madras e o provincianismo português

Dizia Fernando Pessoa que o provincianismo português consistia ‘no entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há-de admirar aquilo que é parte dele?’ Deve ser um desses ataques de intenso provincianismo que me assola quando chego a cidades grandes de que gosto. Londres está naturalmente no top das urbes que continuo a admirar. Não interessa quantas vezes lá fui, continua a ter um encanto que agora se vai espalhando a outras partes da cidade menos icónicas, conhecidas que estão as outras. Gosto do bulício, da diferença, da diversidade. Gosto da sensação de que são sempre muitas cidades dentro da mesma cidade. Esta diversidade estende-se obviamente às opções gastronómicas, um dia no restaurante italiano, outra no pub, outra no pub irlandês, uma no indiano e um almoço em Camden a comiscar tudo o que a comida de rua tem para oferecer, mesmo sabendo que não há estômago que resista a tanto. A primeira vez que provei Madras foi num desses restaurantes. Estava frio, algum dia faz calor em Londres? Faz mas não dessa vez. O restaurante era perto do hotel, nada melhor depois de um dia de bater perna cidade afora, e a comida bem quente e aromática, tudo o que precisávamos para compensar o cansaço e o frio. Cruzei-me outra vez com este prato quando inadvertidamente abri o livro dos Hairy Bikers nesta mesma página à procura de uma solução para a carne que tinha no congelador. E como não há duas sem três, quem sabe um dia na Índia, mesmo não sendo um dos destinos que tenho em mente. Até lá fico-me pelo meu Madras ou então terei de voltar a Londres. Qualquer razão serve, mesmo que em Lisboa e até na Ericeira encontre um restaurante indiano. Deve ser o tal de provincianismo.

Beef Madras

Ingredientes
(serve 4)
700g de carne de vaca para guisar cortada em pedaços
1 cebola pequena
2 dentes de alho
3 colheres de sopa de pasta de caril (usei Patak’s)
1 colher de sopa de caril em pó
2 colheres de chá de cominhos
1 colher de chá de pimenta preta
2 bagas grandes de piri-piri
 1 lata pequena de tomate pelado
1 chávena pequena de caldo de carne
Flor de sal
Azeite

Preparação
Pré-aquecer o forno a 150º
Numa frigideira deitar o fio de azeite e saltear a carne em lume forte. Retirar e reservar. Na mesma frigideira deitar a cebola picada bem fininha com os dentes de alho e as bagas de piri.
Deixar murchar e adicionar a pasta de caril, o caril em pó, os cominhos e a pimenta preta. Juntar de seguida os tomates pelados cortados em pedaços muito pequenos. Deixar ferver e juntar a carne. Envolver e ferver uns dois minutos. Juntar o caldo de carne, deixar ferver, rectificar os temperos e deitar num recipiente para ir ao forno. Levar ao forno pré-aquecido cerca de duas horas.

Servir com arroz basmati com canela e cardamomo.
Este prato requer apenas paciência porque leva muito tempo no forno mas vale a pena. Ficou quente e intenso e dizem os Hairy Bikers que tem apenas 346 calorias por porção. Só coisas boas. A repetir sem qualquer dúvida.
A fotografia foi a possível na calada da noite. Melhores dias virão, ou melhor máquina.


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Guinness Soda Bread para o Dia Um

Estava frio, muito frio para o início de Agosto. Quis o acaso ou a imprudência que não tivesse tomado café antes e quando chegou a hora do almoço no meu primeiro dia da semana em Cork, eu estava já exausta. Nesse primeiro dia decidiu-se que o almoço seria no English Market, o mercado local com uma oferta variada de produtos e, como todos os mercados, um estímulo poderoso para os sentidos.  Enquanto esperava pelo salmão grelhado, arrastando-me numa terrível fraqueza, veio para a mesa, onde se falavam algumas línguas do mundo, um pão em fatias, escuro, e de textura e sabor diferente de todos os que tinha provado até então. Estava morno e foi comido com manteiga e com prazer, o conforto dos dias frios e inesperados, o antídoto para o cansaço que me assolava. A comida é tantas vezes conforto. Ao longo dos dias o pão foi voltando, a mesma textura e sabor, com uma ou outra variação, mais ou menos escuro e sempre tão reconfortante. Este pão singelo, fofo e macio, constituiu um mistério revelado posteriormente. Bastava juntar a farinha com bicarbonato de sódio e buttermilk, a química, como em muitas outras coisas, encarregar-se-ia do resto. Viva a simplicidade. 

Guinness Soda Bread

Ingredientes
250 g de farinha de trigo sem fermento
250 g de farinha de trigo integral
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 colher se chá de sal
1 colher de chá de açúcar
200 ml de butternilk (comprei feito)
200 ml de stout (usei Guinness)

Preparação
Num recipiente largo juntar as farinhas com o açúcar, o bicarbonato de sódio e o açúcar. Abrir uma cova no meio e adicionar a Guinness e o buttermilk. Com um grafo de madeira mexer cuidadosamente os ingredientes. Quando estiver formada uma massa pôr numa superfície enfarinhada. Unir a massa com as mãos sem amassar. Formar uma bola e transferir para um tabuleiro de forno com uma folha de papel vegetal anti-aderente. Com uma faca cortar uma cruz no pão. Ligar o forno a 220º e deixar a massa descansar 30 minutos. Findo esse tempo levar ao forno, meia hora. Retirar, deixar arrefece um pouco e saborear. Quem disse que fazer pão é difícil e moroso?
E aqui está a minha participação em mais uma edição do Dia Um... na Cozinha, dedicado ao pão numa homenagem das organizadoras ao dia 1 de Maio e a todos os trabalhadores do mundo e à qual me junto. Nos dias que correm julgar-se-iam para trás os dias em quem não havia pão na mesa, metáfora para uma sociedade justa e digna em que ninguém passaria fome, contudo a realidade todos os dias nos aponta noutra direcção e os tempos passados parecem bater à porta e sentar-se à nossa mesa como um fantasma de tempos que não se desejam.

Quando vi a escolha do Dia Um.. Na Cozinha, não fiquei muito animada: não tenho máquina de fazer pão, não tenho Bimby e recorro apenas a uma singela batedeira que me acompanha há uma dúzia de anos. Também não sou a mais paciente das  criaturas. Depois de dar voltas à cabeça, lembrei-me deste pão. É saboroso, de textura única, não precisa de ser amassado, não pode mesmo ser amassado, e seria a entrada desejada para uma almoço de feriado. Foi comido com manteiga com alho e ervas aromáticas e queijo da Serra. 
E agora, quando chega o próximo desafio?