segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Várias maneiras de escrever um post num Hotpot de vinho tinto e cogumelos

Há sempre muitas maneiras de escrever um post, não só aqui nesta espécie de diário espaçado das minhas aventuras na cozinha mas em qualquer tipo de blogues. Desta feita não me conseguindo decidir por uma única, há sempre várias perspectivas sobre um mesmo acontecimento ou facto, conto-vos todas as que me levaram a experimentar esta receita:
  •  Recebi de presente de Natal dois livros de culinária e queria muito dar-lhes uso, fazendo uma receita de algum deles e homenagear quem mos ofereceu.
  • Apetecia-me muito experimentar uma receita diferente.
  •  Louvo quem inventou a Comfort food e o conceito de Comfort food.
  • Numa segunda-feira de Verão irlandês em que chovia e fazia frio e vento, depois de uma manhã de trabalho intelectual intenso e a caminho da estação para irmos a Cobh, entrámos num pub e comi o Irish Stew que não sendo o mais saboroso que já provei foi de certeza a confirmação do que é a Comfort food.
  • O Natal foi muito generoso comigo, quem me ama foi muito generoso mesmo. Depois de ter andado a namorar uns pratos, foram-me oferecidos e estava doida para os usar pela primeira vez e a primeira vez teria de ser também com uma receita feita pela primeira vez. Manias. Muitas.
  • Era Domingo e Domingo é dia de degustação aqui por casa, dia de calma e comunhão, de provar, petiscar, amar.
  • Precisava de mais razões?

E depois de tanto palavreado, apresento-vos a minha versão do Hot Pot, assim uma espécie de guisado, que retirei do livro Irish Family Food da Rachel Allen. Não há maneira de deixar de gostar da Irlanda e dos irlandeses. Experimentem enquanto dura o Inverno. 

Hot pot de vinho tinto e cogumelos

Ingredientes
500 g de carne de vaca para guisar cortada em cubos (usei carne dos Açores)
200g de cogumelos brancos, inteiros em metades ou em quartos dependendo do tamanho
1 cebola média
2 dentes de alho
Batatas cortadas em rodelas médias
2 dl de vinho tinto (usei um tinto de Borba encorpado)
Whisky (apenas o suficiente para regar)
Molho Worcestershire (1 colher de sopa)
Azeite
Tomilho fresco a gosto
Flor de sal
Sal e pimenta

Preparação
Pré-aquecer o forno a 150º. 
Deitar um fio de azeite numa frigideira e saltear os cogumelos até ficarem levemente dourados. Temperar com sal e pimenta preta. Retirar para um outro recipiente e reservar.
Na mesma frigideira, juntar a cebola às rodelas finas e o alho. Se não houver azeite suficiente deitar mais um pouco. Quando começarem a caramelizar, adicionar a carne, temperar com sal e pimenta e selá-la levemente. Juntar o vinho tinto, o tomilho, e deixar levantar fervura. Transferir para um recipiente refractário, deitar o molho Worcestershire e levar ao forno tapado cerca de hora e meia.
Findo esse tempo, adicionar os cogumelos, rectificar o tempero e regar com um pouco de whisky. Aumentar a temperatura para 220 graus e levar ao forno mais um quarto de hora. Retirar do forno e adicionar as batatas cortadas em rodelas em camadas. Temperar cada camada com flor de sal e tomilho. Levar ao forno sem tampa cerca de 30 minutos até as batatas estarem cozidas e começarem a dourar. Não tem bom aspecto?




sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Rosquilhas de Inverno e a liberdade anunciada

Odeio obrigações. Odeio datas para comemorar apenas porque sim. Detesto que me obriguem a tarefas sem sentido, incompatíveis com o espírito racional que me acompanha sempre, e sempre tão lesto como o coração que amolece a um sorriso e um gesto carinhoso. Contudo, gosto de efemérides, das minhas efemérides. Gosto de celebrar passagens na vida, gosto da vitória conseguida e do prazer comemorado e sou incapaz de passar uma data significativa sem uma comemoração. Pode até ser discreta, será certamente, mas não passarão em vão os momentos, dias, épocas. A memória de elefante que me assiste obriga-me de igual forma a lembrar-me de datas que preferia esquecer mas que, tal como a inauguração de épocas e celebração de dias, são a minha matriz, a mulher em que me transformei ao longo dos anos.
Hora do almoço tardia. Saí aliviada. O passo mais leve e acelerado, o sorriso aberto que me deu as boas-vindas e o dossier arrumado para o banco de trás do carro. O fim.
Duas semanas serão. Duas semanas em que tenciono nada fazer a não ser aquilo que me apetecer. Pode ser ler, esticar-me no sofá, ver filmes, ou aquilo que muito bem me apetecer. Há dias em que a minha profissão me faz a mais feliz das criaturas, pequenas conquistas que não constam em lado nenhum se não entre as quatro paredes da minha sala de aula, gestos de carinho inesperados, esforços recompensados nos números do canto superior direito de uma simples folha de teste, um sorriso no pátio. Há dias em que a minha profissão me mata, dias em que sei que não aguentarei tudo o que me querem impor, dias em que me faltará a vitalidade, a presença de espírito, a rapidez na resposta, dias em que acho que mereço mais, mereço melhor sorte e que quero sair, quero ir-me embora, alimentando sonhos de adolescente.
Hoje foi dia de pausa. Recolhi-me na sala desarrumada, encontrei o livro de receitas antigo que me foi oferecido pelo meu pai, antes de computadores, tablets, telemóveis, e procurei uma receita, antiga também ela e que me andava a apetecer. Há efemérides que se devem comemorar. O descanso é um deles. O Natal é outro. Bem-vindo a esta casa.

Rosquilhas fritas com laranja

Ingredientes
250 g de farinha
100 g de açúcar
1 colher de chá de fermento
½ colher de chá de sal refinado
Raspa de uma laranja
1 ovo
2 colheres de sopa de óleo de girassol
Buttermilk (leite em alternativa)

Óleo para a fritura
Açúcar e canela para envolver


Preparação
Juntar os ingredientes secos. Adicionar a raspa de laranja. Fazer uma cova no meio e deitar o ovo, o óleo, e buttermilk apenas em quantidade suficiente para ligar a massa. Bater com a batedeira. Numa superfície com farinha tender a massa com o rolo da massa, se ficar demasiado mole, acrescentar mais farinha, e cortar com um corta biscoitos. Fazer um orifício no meio com um dedal. Fritar em óleo quente, deixar absorver o óleo com papel absorvente e envolver em açúcar e canela. Tão fáceis e tão bons. 


domingo, 1 de dezembro de 2013

Strudel de cogumelos e presunto ou o Wellington sem beef

Embora não venere ninguém, tenho, como o comum dos mortais, um fraquinho por algumas figuras públicas na área da culinária internacional e, sendo eu rapariga de humores e de rompantes, sou fã confessa do Gordon Ramsay. A minha vida e experiência culinária pode dividir-se em dois momentos: antes e depois. Antes e depois do Gordon Ramsay. Antes e depois do Beef Wellington. Quando descobri há uns anos aquela criatura irada na cozinha a gritar desalmadamente por causa dos Beef Wellington, decidi deitar mãos à obra, eu mesma experimentar um Beef Wellington, o pomo da discórdia no "Hell’s Kitchen", e oferecê-lo com carinho ao carnívoro-mor cá de casa. Nesse dia e em todos os que regressei à receita morosa, aprimorando-me cada vez que a repetia, estabelecia-se uma contenda à mesa: todos e cada um de nós queriam ficar com o ‘rabo’ do Beef Wellington. O rabo do dito cujo situava-se nas extremidades e continha não a carne, mas o recheio: uma camada fininha de presunto com uma mistura de cogumelos moídos envolvido na massa folhada e com os sucos de todos os elementos em harmonia. As extremidades eram divididas pelos três e sempre muito concorridas. Meti na cabeça, depois da nossa preferência, que um dia faria um folhado apenas com o recheio de cogumelos.
Quando o Dia Um… Na cozinha lançou o desafio dos Strudel salgados ficou logo bem claro na minha cabeça que esta seria a oportunidade de pôr em prática a ideia que acalentei durante um tempo. Um Strudel seria e o recheio, o eleito cá de casa: cogumelos e presunto com um toque de mostarda, o 'rabo' do Beef Wellington. Acrescentei uns cubinhos de feta temperado com orégãos e a receita foi aclamada por unanimidade e com louvor. Pena é que as fotografias não façam justiça à delícia que foi hoje o nosso almoço. Estava sol, era Domingo e nada me pode fazer mais feliz do que amar cozinhando.

Strudel de cogumelos e presunto com feta

Ingredientes
1 base de massa folhada rectangular
200 g de cogumelos brancos
400 g de cogumelos Portobello
Presunto serrano em fatias finas
Queijo feta
Mostarda com grãos
Vinho branco
Tomilho fresco
Sal
Pimenta preta acabada de moer
Flor de sal
Margarina com alho
Azeite


Preparação
Lavar os cogumelos e triturar numa picadora ou robot de cozinha até ficarem em pedacinhos muito pequenos, quase em pasta. Reservar. Numa frigideira larga deitar um fio de azeite e uma noz de margarina com alho. Deitar os cogumelos e deixar cozinhar até desaparecer a água. Temperar com sal, pimenta acabada de moer, tomilho a gosto, e adicionar vinho branco. Deixar evaporar o vinho mexendo sempre, até ficar uma pasta uniforme húmida, sem deixar secar totalmente mas sem haver vestígios do vinho branco. Retirar do lume e deixar arrefecer.

Pré-aquecer o forno a 200º. Tirar a massa folhada do frigorífico, deixar descansar à temperatura ambiente uns dez minutos e estender numa folha de papel vegetal. Colocar as fatias de presunto sobre a massa folhada, deixando uma margem e pincelar generosamente o presunto com a mostarda com grãos. Dispor o queijo feta e a mistura de cogumelos por cima. Pincelar as extremidades da massa folhada e dobrar, ‘fechando’ muito bem a massa folhada. Refrigerar dez minutos no frigorífico. Retirar do frigorífico, pincelar levemente com o ovo batido, fazer uns traços na massa folhada com uma faca sem cortar. Salpicar com flor de sal e levar ao forno até a massa estar dourada.



E esta foi a minha resposta a mais um desafio do Dia Um... Na Cozinha. Que venha o próximo!