sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Chimichurri do tempo da salsa e hortelã


Viver no campo é poder sair pela porta da cozinha pela manhã ainda de pijama e cheirar o orvalho de Outono com os ruídos da calmaria como banda sonora. Há quase sempre cães a ladrar em surdina, vozes de vizinhos que se cruzam ou de gente que faz travessias condizentes com esta condição de viver calmo, e o chilrear dos pássaros. Agora no Outono menos rolas e outras espécies que desconheço mas que ouço com agrado.  
Hoje não foi excepção. A manhã gloriosa de Outono sacudiu-me o cansaço extremo de uma semana que parecia não ter fim. Desço as escadas ainda estremunhada. Dormiria mais. E entro na manhã de sol, magnífica, uma verdadeira bênção neste Outono triste de tanta desesperança. Chamam-me de lá de fora. Já viste a hortelã? Não. Não tinha visto. Adoro hortelã, talvez por isso morra de amores por um mojito, e quando o jardineiro me deu literalmente cabo dela fiquei inconsolável. Arranjou-se entretanto substituto. Embora de aroma e sabor menos intensos, tem crescido a olhos vistos. A  enorme surpresa foi, quando alertada, lhe fiz uma visita e vi a minha hortelã depenada. Depenada a sério. Nem uma folhinha tinha escapado à fome voraz de algum bicharoco. O manjericão ao lado também levou um desbaste e a salsa ficou quase careca também. Safou-se o cebolinho. Continua lindo e viçoso. Dos bichos nem rasto. Quase me atreveria a pensar que o Ministro das Finanças e os amigos do governo resolveram passar por aqui tal a dimensão do depenanço.
Hoje deixo-vos uma receita do tempo em que a minha salsa e hortelã não eram apenas uns ramos desnudados espetados com ar raquítico e desvalido. Eram frondosos, aromáticos e proporcionaram-me uns momentos de prazer quando saía de tesoura em punho para recolher uns ramos e umas folhas.  Este molho argentino delicioso terá de esperar uns tempos para ser repetido.

Chimichurri

Salsa (2 colheres de sopa)
Hortelã (½ colher de sopa)
Orégãos secos (1 colher de sopa)
Malagueta seca (1 colher de chá)
Alho picado (1 colher de sopa)
Azeite (3 colheres de sopa)
Vinagre de vinho tinto (2 colheres de sopa)

Lavar e picar a salsa e a hortelã. Usei uma tesoura de ervas aromáticas mas pode ser picado com uma faca. Juntar o alho e a malagueta. Acrescentar o azeite. Juntar os orégãos e por fim o vinagre. Mexer tudo muito bem e deixar macerar. Servir com bife de vaca grelhado na brasa. A quantidade das ervas aromáticas pode e deve variar com o gosto de cada um.


Gosto muito dos contrastes deste molho: a frescura da hortelã com a simplicidade da salsa, o calor da malagueta com o aconchego do azeite, a agressividade do vinagre com a sensatez dos orégãos. Indicado para carnívoros empedernidos é muito bem-vindo por quem, como eu, até quase passa sem carne. 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

A inconsistência da memória nuns scones de bacon


Andava com esta mania desde que vim da Irlanda. Esta e outras. Mas esta que me assolou foi-me apresentada numa das primeiras refeições quentes que tomei no English Market em Cork, numa segunda-feira chuvosa como muitos outros dias que se haviam de seguir. O clima irlandês constitui o primeiro desafio em terras celtas. Quem o suportar está pronto para as vicissitudes e das duas, umas: ou passa a odiar chuva e ansiar desalmadamente por dias quentes e de sol ou aprende que as existências felizes não podem depender de factores climatéricos. Eu optei pela última e apaziguei-me com a vida.
A mania que trouxe chama-se soda bread. Um pão feito apenas com farinha, sal, bicarbonato de soda e buttermilk, sem água nem fermento de padeiro. Simples de confeccionar e absolutamente delicioso. Nunca fiz pão na vida e comecei a achar, mesmo antes de começar, que não iria correr bem. Quando encontrei a receita destes scones de bacon da Rachel Allen fui salva da humilhação. A massa é a mesma do soda bread, e fiquei mais tranquila com as dimensões. Pequenos e com a variação do bacon certamente não iria correr assim tão mal.
Hoje deitei mãos à obra. Coscuvilhei as farinhas de pão no supermercado, vi-lhes o preço e achei que para experiências mais valia render-me à simplicidade da receita original e fazer experiências para a próxima. Acontece que, no afã da novidade e na descontracção do fim de tarde, me perdi e quando comecei a juntar o leite à farinha fui acordada pela minha memória serôdia. Não, não era leite, era buttermilk. Não era eu que não queria experiências? Lá se foi a receita original. Para uma próxima certamente.

Scones de bacon

Ingredientes
225 g de farinha de trigo
200 ml de leite (buttermilk)
½ colher de sobremesa de sal refinado
1 colher de chá de bicarbonato de soda
Bacon em pedacinhos a gosto
Orégãos (opcional)

Preparação
Pré-aquecer o forno a 200º. Numa tigela juntar a farinha com o sal e o bicarbonato. Fazer uma cova no meio e juntar o leite a pouco e pouco sem bater muito. Juntar os pedacinhos de bacon e os orégãos. Amassar levemente numa superfície com farinha. Enrolar bolinhas pequenas e com uma tesoura fazer dois cortes como uma cruz. Levar ao forno cerca de 20 minutos.


Estes scones são ideiais como entrada, enquanto o jantar ou almoço se ultimam, e devem ficar deliciosos com manteiga ainda mornos.